quinta-feira, 14 de julho de 2011

Profanações- Giorgio Agamben

Resenha:
Profanações- Giorgio Agamben

Segundo o autor , profano, é aquilo que , de sagrado ou religioso que era, é devolvido ao uso e a propriedade dos homens.
Quer dizer, é aquilo que deixou de ser sagrado , ou ainda, da ausência deste. Perder o sagrado é perder a totalidade de mundo. Digo isso porque profanar significa restituir o uso comum , o que havia sido separado na esfera do sagrado. Tornou-se improfanável, fragmentado, onde o sacrificio, tornou-se mercadoria, como o corpo , a sexualidade, a linguagem, esta na esfera do consumo.
Walter Benjamin discorrendo sobre modernidade disse que, o valor da exposição, quer dizer, o corpo exposto para as câmeras, como um espetáculo, com a perda da aura, banalizando o improfanável. E Marx na oposição, entre o valor de uso e valor de troca,  a exposição vazia do resto, e Nietzsch, com a morte de Deus e nas conseguências dessa morte. Diz que a negação do mundo supra-sensivel ( como Kant defendia) e dos valores que o contituem acarreta o esvaziamento do  mundo sensível, que se vê privado de consistencia e de razão de ser- niilismo- a vida humana se tornaram caducos.
O presente em que estamos vivenciando as nossas experiencias humanas nos mostra a total descentralização do que somos.
O individualismo, a massificação , acabou com nossa subjetividade, liberdade. Nos remete a perda do sagrado, que significa a indigência do tempo.
Mas é exatamente aí, nessa esfera da profanação – na ausência do ser, surge a necessidade do diálogo, é preciso que haja tal perda para se traçar o caminho do sagrado.
Numa linguagem autenticamente trágica, o original, o que está sempre a cria-se, é o surgimento do individual, e é através desses jogos de seduções e de profanações que fotografos, cineastas, poetas utilizam-se para expressar e interpretar o nosso modo de viver, da nossa época. A profanação do improfanável é a tarefa política da geração que vem.


Loly Demercian

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Discorrendo sobre o Grafite

Segundo Bauman, numa sociedade liquida-moderna, as realizações individuais não podem solidificar-se em posses permanentes, porque, num piscar de olhos os ativos se transformam em passivos e as condições de ação e as estratégias de reação, envelhecem rapidamente e se tornam obsoletas.
Seguindo esse raciocínio, observo o grafite, nas ruas, nas esquinas, nas casas abandonadas, nas industrias esquecidas, na periferia, na cidade... na galeria de arte.
Mas a questão é o conceito, seria arte expandida, como muitos críticos a definem? Fine art, como esta sendo chamado? Vejo que não, pois a arte expandida tem como  canones a história da arte,  o discurso  é definido na arte, coisa que o grafite não , ele é bem indefinido; Campo ampliado? não, porque ele não tem territórios e não se instaura em lugar nenhum; Arte híbrida? Não, porque ele não tem plasticamente várias produções, a manufatura não é retirada da história da arte; Desenquadramento da arte? Não porque ele não tem como conceito algo palpável, do estático, não existe nem modelo e nem uma idealização de um  mundo.
Então o que  define o grafite na contemporaneidade? 
Seguindo o raciocínio de Bauman, em que as ações e as estratégias de reação envelhecem rapidamente e se tornam obsoletas, o grafite é essa ação, porque a cada segundo, a cada minuto uma parede é pintada, assim, como ela é destruída, demolida. Tudo que se pintou, transformou-se em pó. As técnicas mudam a cada dificuldade que o grafite exige. Os desenhos, os riscos, nada pré-definido, mesmo que queiram marcar o gestual, como uma grife, que é digno, porque somos humanos, queremos dar nossa assinatura como existência que estivemos aqui...
Essa é a palavra...existência...tudo se torna obsoleto. A existência, precisamos dela, mesmo que em si, mesmo que sendo. É o aqui, é sendo vivido, ora se ela é sendo , no gerúndio, como podemos dar nomes, se ela é o agora?
É nessa ilusão que temos da consciência, que o grafite cria e recria, leva-nos a refletir sobre o que vemos e sobre o nosso tempo, a nossa consciência das coisas vividas.
Termino citando Bergson: "A Imagem é um estado presente, e só pode participar do passado através da lembrança do qual ela saiu. Se a consciência não mais que característica do presente, ou seja, do atualmente vivido, ou seja, enfim, do que age, então o que não age poderá deixar de pertencer a consciência, sem deixar necessariamente de existir de algum modo."

Loly Demercian